segunda-feira, 8 de julho de 2019

Zé Limeira - Poeta do absurdo


Prezado Saulo Bezerra: - Antes de começar com meus arremedos de trovas, faço um registro: às 8h30 da manhã de 24 de dezembro de 1954, a Rádio Borborema de Campina Grande, encerrou seu tradicional programa "Retalhos do Sertão", com esta notícia:
"Zé Limeira, o andarilho de fôlego de sete gatos, o precursor do tropicalismo no Brasil, o dono da noite e da estrada, o repentista impagável, o poeta do absurdo, desde as três horas encontra-se na eternidade, prestando contas ao Mestre!"
Em seguida, Orlando Tejo (*) cita estes dois versos de Zé Limeira:
"... Se um dia eu fosse chamado / pra cantá no Céu eu ia..."
(*) - Orlando Tejo, poeta e jornalista; devido à sua amizade com Gladystone Vieira Belo, no Diario de Pernambuco, faz, nas notas do livro "Zé Limeira - poeta do absurdo", algumas alusões a Bom Conselho, e a alguns dos seus personagens. Graças a essas amizades que soube cultivar, ele conheceu a nossa terra - Bom Conselho.
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Zé Limeira
Falando do Andarilho / desse que está no trilho /


/ lembrei-me de Zé Limeira / poeta do absurdo

/ Orlando Tejo me disse / e sobre ele escreveu.

Foi na Serra do Teixeira / que o cantador nasceu

/ valente que nem um curdo / esse povo do Iraque

/ de cartola ou de fraque / ele nada entendia

/ mas pra fazer poesia / trova, repente o que fosse

/ cantador bom se rendia / e dizia sem pensar

/ a coisa aqui tá amarga / bom seria sendo doce

/ mas quando se pega não larga.

Um dia Limeira morreu / glórias ele mereceu

/ foi bom pra quem o ouvisse / daí o disse-que-disse

/ em torno do cantador / que nunca deixou o andor

/ no meio da procissão / fosse no ar ou no chão

/ e Limeira estava lá / cumprindo a sua missão.

Criou muitos disparates / juntou um montão de vates

/ pra cantar lá em Campina / assanhou muita menina

/ cantou com gente famosa / gostava também de prosa

/ e sabia prosear / pra todo mundo aprovar.

Tomava muita zinebra / na emenda o bom não quebra

/ muita coisa ele nos deu / com sua biografia

/ que Orlando Tejo escreveu / amante da poesia.

Limeira e sua viola / cantador que deita e rola

/ com ele perdia a graça / fosse na rua ou na praça

/ gostava de confusão / nos oito pés a quadrão

/ cantava a pleno pulmão / fosse no brejo ou sertão.

No meio duma cantoria / Limeira surpreendeu

/ foi pendendo da cadeira / e no chão se arrebentou

/ o povo todo correu / pra ver o que se passou

/ já era tarde, porém / às três horas da manhã

/ Limeira havia morrido / num desmaio incontido

/ a gente perde o que tem / e todo mundo aturdido

/ lembrando Puxinanã.



Foi assim que a Borborema / a rádio lá de Campina



/ que não soltava o bom tema / cumpriu tão bem sua sina

/ locutor anunciava / notem que ele falava

/ da morte de Zé Limeira / nascido lá no Tauá

/ sítio onde ele residia / orgulho de moradia

/ lá na Serra do Teixeira / poeta do absurdo

/ mas com isso eu não chafurdo / foi o que me disse o Tejo

/ numa noite seresteira / seja na serra ou no brejo

/ isso não é brincadeira.


José F. Costa. /.

sábado, 1 de setembro de 2018

Linguagem







Linguagens: umas enxutas e outras manchadas
 José Fernandes Costa – jfc.costa15@gmail.com
           
Em 2012, Dalva Molina Mansano escreveu denso texto. Título: - “A LINGUAGEM ENXUTA DE GRACILIANO RAMOS” – Foi publicado no “Recanto das Letras”, em 9.6.2012. Dalva Molina é paranaense de Londrina. Naquela crônica, Dalva citou alguns escritores. Como destaque na prosa de ficção, ela deu ênfase aos escritores Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego etc. – Mas Dalva direcionou sua análise ao modo peculiar do nosso Graciliano Ramos criar e desenvolver seus romances, artigos, crônicas e memórias num estilo próprio e enxuto. Segundo Dalva, Graciliano era “econômico nas palavras e se desfazia dos termos dispensáveis...”.
Dalva Molina se graduou na Faculdade Estadual de Londrina, em Letras Vernáculas, essencialmente literatura brasileira (língua portuguesa). Dalva fez especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Faculdade Campos Elíseos, de São Paulo. – Feito esse preâmbulo sobre linguagem enxuta, vou transcrever um período de renomado escritor daqui de Pernambuco. E, a seguir, externo minha opinião a respeito. Ei-lo:
 “No centenário de nascimento de Hermilo Borba Filho, a obra de Hermilo está sendo reeditada pela Cepe, a nossa editora oficial que abriu as portas para a criação pernambucana nesta notável administração de Ricardo Leitão, e os leitores mais jovens têm a oportunidade de ler aquele que foi sempre um guerrilheiro da palavra tanto na literatura – romances, novelas, contos – quanto no teatro, em artigos para jornais e revistas, no cinema – roteiros e esquetes – e onde pudesse manifestar a qualidade do seu texto, sempre no front.”
Agora, vai minha opinião a respeito: - Parece-me que o nosso escritor se perdeu na extensão do período e na falta de pontuação. Um período desse tamanho, para início de conversa, deixa o leitor perdido. E sem vontade de continuar lendo o artigo ou seja lá o que for. Além da falta de pausas, o período acima carece de sentido, no meu prejulgamento. Creio que qualquer leitor atento vai reparar esse desarranjo. Vai notar que as palavras ficaram rogando por algumas pausas silenciosas para que a oração pudesse ser ouvida e sentida.
Quando você se perde no emaranhado das palavras, sem pontuação, perde-se também na conclusão clara do desejado pensamento. A boa redação requer frases curtas, concisas. E períodos breves e precisos. Os manuais de redação preconizam essa forma de expor os textos em breves frases, para possibilitar o interesse do leitor. E a boa interpretação da matéria lida. Com o consequente entendimento por parte de quem ler.
Citei um exemplo real, somente. Mas poderia eu citar milhares de outros textos desconexos. Porque tem milhares de articulistas escrevendo períodos quilométricos que começam e terminam sem pé nem cabeça. E o leitor perde seu tempo. Salvo aqueles que abandonam tais leituras, tão logo começam. – Eu sou curioso e prossigo para ver no que dá.
2. Saindo da esfera dos “renomados” escritores, entro noutro assunto que me parece pertinente. Refiro-me à linguagem inadequada e desnecessária que certas pessoas costumam fazer uso em seus escritos. E tudo que é desnecessário, sobra no texto. Pego, como exemplo uma crônica que li num jornal, há alguns dias. – Falo desse do jornal local, mas poderia ser de qualquer lugar. De Manaus, de Porto Alegre etc.
Não citei o nome do nosso escritor acima; e também não vou mencionar o nome da cronista colaboradora do outro jornal. Apenas, adianto que a nossa cronista em foco, publicou outro dia, no mesmo jornal: “Uma questão de interpretação” – E esta, para não fugir à regra, foi bobona. – Sendo que a que veio antes foi horrível e até agressiva às nossas ouças.  Ademais, fora de propósito. – a) Falava de uma moça muito feia.
E por ser feia demais, não encontrava pretendentes para namoro e casamento. Então, o pai dela (da moça feia) contratou um “noivo” para a dita filha feia. O rapaz era filho de um amigo do pai. Teria sido um arranjo daqueles que eram feitos no século XX, entre os “coronéis”. Em certo dia o “noivo” foi conhecer a noiva feia, na casa dos pais dela.
Até aí a crônica seguia sem graça e sem consequências. – Ocorre que, segundo a cronista, após o almoço, a noiva feia foi mostrar os arredores da casa dos pais dela, ao pretenso noivo “bonitão”. – Na casa dela não havia sanitários, como ocorre nos sítios e fazendas! – E debaixo de umas árvores a moça começou a descrever o “sanitário” da família. Nessa tal descrição, o linguajar, o palavreado sem freios, fez a história descambar para a caixa de esgotos das crônicas sem conteúdos.
Mas vieram as inconsequências e as consequências tenebrosas. Pois a cronista dizia: “Aquele monte ali é da senhora minha mãe. Aquele outro lá é do senhor meu pai.” E cada vez mais ela acrescentava um nome asqueroso para explicar ao “namorado” a quem pertenciam os montes de fezes! Foi por essas descrições absurdas que o rapaz foi-se embora para nunca mais voltar. Assim, terminou aquela crônica.
Esse tipo de escrevinhadores, a meu ver, não soma nada! É o que eu chamo de escritas infelizes. – Porque aquilo que nada acrescenta, se não existir, nenhuma falta faz. Nem ao leitor, nem ao jornal que a publica. – Presumo que a direção desse jornal somente publica tais coisas pela consideração que tem aos seus colaboradores! E, de igual modo, também publica as sandices de um doidivanas, que se diz "poeta"! – Todavia, há colaboradores e “colaboradores”! – ¡Y sanseacabó! /.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Dupla moral






Dupla moral

“Sempre que fazem algo de que se envergonha, 
os homens dizem que estavam só cumprindo seu dever”.
(Bernard Shaw).

José Fernandes Costa – jfc.costa15@gmail.com


      Na família Carvalheira Teles havia o hábito de casar tios com sobrinhas. Por isso, faltava moral bastante para que se afirmasse que primo não engravidava prima. Ademais, havia outros cinismos explícitos. Vejamos: Macário Teles, tio de Milinha, mantinha um romance com a cunhada, Tereza, esposa do seu irmão Frederico. Macário era solteirão ricaço, cínico e grosseirão. Tinha uns 15 filhos com várias mulheres humildes cujas famílias moravam em suas fazendas. Vez ou outra, Macário era visto sem roupas, à beira de um açude de sua propriedade, alisando o pênis e chamando Tereza, que o observava através dos arbustos que circundavam o açude. Minutos depois, ali mesmo dentro d’água, ambos se entregavam aos deleites do sexo.

       E Hermes, o filho mais velho de Tereza e Frederico, era muito chegado ao seu tio Macário. Recém-casado com uma prima, Hermes estreitou convivência e companheirismo com esse tio, mesmo sabendo que ele era amante de sua mãe. As terras dos dois eram contíguas e as casas grandes de ambos situavam-se bem próximas, podendo avistar-se uma, olhando-se do alpendre da outra.

       Com tamanha aproximação, Hermes passou a rezar pela cartilha de Macário. Arrumou amante, irmã de uma das amantes do tio, que ainda era novo naquela época. Tempos depois, Hermes também já mantinha um caso amoroso muito forte e que se tornou duradouro, com sua cunhada Iracema, casada com Evaristo, irmão do próprio Hermes. Com tantas afinidades, a amizade do tio com o sobrinho somente aumentava.

       Diante dessas anomalias, voltamos a perguntar: - que autoridade moral tinham os homens daquela família para dizer que primo não engravidaria prima? Hipocrisia pura, má-fé e maldade. Mas, sem ter de quem se valer, totalmente indefesa, Milinha não vislumbrou outra saída, a não ser concordar com a hipócrita versão inventada pelos irmãos. E disse-lhes que o pai da menina era mesmo o seu Guedes.

       Os irmãos de Milinha não aceitavam a criança em hipótese alguma. Estavam alucinados. Uma sobrinha deles, já noiva, ofereceu-se para criar a menina. O Velho Bernardo não quis conversa. E não admitia nem ouvir falar nessa proposta. A menina não se iria criar junto à “imaculadafamília Teles. Desse modo, alguns queriam que a recém-nascida fosse morta sumariamente. Outros diziam que ela deveria ser atirada ao relento para ser destruída pelos animais. Dª Sofia, indignada com a brutalidade dos filhos contra Milinha e a filha que acabara de nascer, pôs-se no quarto com as duas e não permitiu que nenhum deles entrasse.

       Aí eles decidiram mandar a criança para o suposto pai tomar conta. E enviaram um recado para o Guedes, avisando-o de que ele viesse buscar a menina, caso contrário, ela seria morta. Guedes respondeu que não era o pai. E eles, os irmãos de Milinha, ameaçaram-no de morte. Diante disso, mesmo afirmando nada dever, Guedes resolveu assumir a guarda da menina.

       Com medo de ir lá, Guedes pediu a um casal de velhos, seus amigos, que fossem buscar a criança. Os velhos também tinham medo, mas foram. E ao se aproximarem da casa de Milinha, pararam e gritaram, pedindo que trouxessem a recém-nascida. Não havia roupas para vesti-la. Dª Sofia levou-a embrulhada num pedaço de tecido grosso, que servia para fazer mochilas para caçadores. Entregou-a ao casal de velhos e eles a levaram para os cuidados do Guedes.

       Mas Guedes também era casado. Tinha esposa e filhos. Por isso, não podia aceitar a menina em sua casa. Ele tinha uma irmã solteira, Rosa Maria. Então, pediu a Rosa que cuidasse da criança. E os dois juntos tratariam de encontrar alguém que quisesse adotá-la.

       A essa altura, Eloísa, a filha mais velha de Milinha, já havia sido mandada para a casa do tio Gabriel, na cidade de Rio das Trevas, a 110 Km da Fazenda Tramandaí. O filho Pedro, com quatro anos de idade, ainda estava com a mãe. Sem a filha que acabara de nascer e com a saúde muito debilitada, Milinha ficou exposta à fúria de alguns dos irmãos, principalmente de Josué. Este, costumava espancá-la, juntamente com o pai, Bernardo, num dos quartos da casa grande, onde ela passou a viver trancada.

       Nos fins de tarde, Pedro ouvia gritos vindos de dentro do quarto onde Milinha se encontrava. Naquela hora estavam no quarto: ela, seu irmão Josué e o pai Bernardo. A seguir, ouviam-se pancadas e a porta permanecia fechada por mais uns instantes, até que pai e filho saíam. Pedro, sem nada entender, seguia para a cozinha e encontrava sua avó, Sofia, chorando.

       Os maus-tratos, somados à pressão brutal e violenta que sofreu dos irmãos, e mais a brusca separação dos filhos, deixou Milinha quase louca. Era o pretexto que eles queriam para justificar o seu internamento num hospital de alienados mentais, na capital do estado.

       Nessa última viagem ela foi levada pelo irmão Lauro que se fez acompanhar de Alonso Teles. O velho Alonso, tido como uma espécie de conselheiro da família, era concunhado de Bernardo Carvalheira. Alonso agia como juiz de paz. Na verdade, ele era um grande ignorante analfabeto. Possuía um título de “coronel”, que se comprava naquela época por qualquer meia pataca. Assim, era o “coronel” Alonso quem dava as cartas em qualquer situação que mexesse com a “honrada família Teles.

       Lauro também bateu em Milinha na noite anterior à sinistra viagem, na casa de Gabriel, o irmão mais velho e talvez o mais omisso. Ela não admitia viajar para se internar, porque já pressentia a intenção dos seus irmãos. E se recusava a se preparar para a viagem. Foi aí que Lauro entrou no quarto onde Milinha estava trancada, tornou a fechar a porta e, mais uma vez, ouviram-se gritos seguidos de pancadas, até que Milinha se calou e vestiu-se para empreender sua última viagem.

       Ao entregar a irmã no hospital, e respondendo à pergunta da funcionária que o atendeu, e que precisava saber como e com quem se comunicar quando Milinha se recuperasse, o satânico Lauro disse que se ela se curasse, eles resolveriam depois; mas se morresse ali mesmo, seria muito melhor. E voltou pra casa, ostentando “consciência tranquila” como quem houvera cumprido nobre missão. – Milinha nunca mais voltou! Nem o corpo, eles foram buscar! Foi sepultada como indigente, na capital do estado!


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018




GARANHUNS E A ESPINGARDA EM 1917

Por José Fernandes Costa – jfc.costa15@gmail.com

 No dia 3 deste mês, li no Blogue de Roberto Almeida, breve crônica sobre a tragédia que ocorreu em Garanhuns, no ano de 1917. A alguém pode parecer estranho que o juiz Abreu e Lima e o tenente Meira Lima, em vez de contribuírem pra evitar o mal maior, tenham colaborado fortemente com aquela matança.

Para mim, isso não constitui estranheza. Passei meus primeiros anos de vida na divisa de Alagoas e Pernambuco. Do lado de cá, Bom Conselho; do lado de lá, Palmeira dos Índios. Sempre acompanhei a história do banditismo dos “coronéis” nesses dois estados da federação.

Naquela ocasião (3.2.2018), eu fiz um comentário pela tangente. De propósito, desviei o assunto para o tiroteio da Assembleia Legislativa de Alagoas, ocorrido em 1957, o que não tem nada a ver com a carnificina feita em Garanhuns. 

Voltemos ao que parece estranho, mas não é: como pode o juiz de direito e o responsável pela segurança pública do município, endossarem o plano macabro dos bandidos matadores?! Estes, usando ardis calculados, trancafiaram seus adversários na cadeia pública da cidade.  E, a seguir, invadiram aquele presídio e trucidaram cerca de 20 pessoas, incluindo policiais que cumpriam suas obrigações. – Antes, porém, os tais bandidos trataram de retirar os armamentos que poderiam ser usados por policiais que, no cumprimento do dever legal, tentariam evitar a matança impiedosa.

A análise pode não ser simples, mas temos de partir de certa lógica. – Houve um “coronel” assassinado por um capitão que havia sido surrado na via pública. O capitão fora surrado, para que o povo de Garanhuns e adjacências ficasse sabendo que a família do “coronel” era valente. E que ali quem mandava, desmandava, casava e batizava era a família do dito “coronel”.

 Não dá para descrever a imensa humilhação sofrida pelo capitão Sales Vila Nova. Foi desmoralizado para todo mundo ver e saber. Com que cara o capitão Sales iria se apresentar aos seus familiares? Como chegar e olhar de frente para quaisquer pessoas, de sua família ou não? – Assim, só restou ao capitão Sales Vila Nova matar o “coronel” da família dos tranca-ruas. – Sales já havia avisado que, se fosse surrado, mataria o “coronel”. – Havia alguma dúvida para os parentes do “coronel” de que fora o capitão Sales que cometera o assassinato em Recife, por sua conta e risco? – Se dúvida havia, é porque a ignorância da família “valente” era tanta que deixou todos mais cegos do que já eram.

Com aquela morte em Recife, houve a primeira viúva. E esta tinha ódio e maldade dentro do peito pra distribuir com quem ela quisesse. – Então, a primeira viúva ordenou aos seus parentes que reunissem os pistoleiros da região e viessem pra Garanhuns. E tomassem conta da cidade, criminosamente. Cerca de 100 bandidos armados até os dentes passaram a agredir pessoas que não fossem do agrado deles! – E, a partir de então, foi gestado o plano macabro, dentro da casa da primeira viúva. – Doravante, essa viúva será chamada só pela alcunha de primeira viúva.

Naquele complô, na casa da primeira viúva estavam o juiz e o tenente (este também delegado de polícia); ambos deveriam servir ao povo de Garanhuns. Porém, ao não fazê-lo, nada disso causa estranheza. É e sempre foi comum nas cidades onde imperam os currais eleitorais, as “autoridades” tomarem partido, por mera simpatia com certos chefetes políticos. – Então, naquele momento, foram postas as cartas na mesa. Tendo em vista o ambiente de guerra declarada, o juiz e o tenente se engajaram de corpo e alma no plano mortal da família da primeira viúva.

Assim, o plano deu os resultados que a primeira viúva e seus apaniguados quiseram. Depois de executados os homens odiados pela primeira viúva, esta fez a comemoração na sua residência, com bebedeiras, risos e alegria esfuziante, segundo foi noticiado.  – Tanto ódio, tanta frieza, tanta insensibilidade, talvez tenha sido isso que fez a primeira viúva viver quase 100 anos.

A pergunta que fica no ar é: por que a primeira viúva não foi condenada, já que tudo ocorreu por ordem dela, dentro de sua casa?! Se ela foi a julgamento, como não ser condenada?! Isso é muito mais estranho do que a participação das “autoridades” na chacina. – Já a absolvição de Sales Vila Nova encontrou amparo legal, a meu ver. Visto que o Código Penal prevê “os crimes contra a  honra”. E entre estes está:

“Se a injúria consiste em violência ou visa de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, consideram-se aviltantes as ofensas.” (CP: art. 140, § 2º.)

O Código Penal de 1941 estabelece esse crime. É óbvio que, com muito mais razão, os códigos vigentes em 1917 também estipulavam tal crime. – E por ter sido surrado, o capitão Sales Vila Nova foi atingido em sua honra; tendo sido humilhado de maneira aviltante. Daí, sua absolvição!

2. Pessoas alimentadas pelo mal, juntam-se aos maus e se deleitam com a prática da desgraça. – Para os agentes do mal, nada melhor para eles do que uma carnificina em letras garrafais. Foi o que ocorreu em Garanhuns, naquele 15 da janeiro de 1917. – Ademais, os bandidos valentões agrediram mulheres: as filhas e a esposa de Manoel Jardim. Isso foi covardia imperdoável.

Li, em algumas publicações, que o “coronel” assassinado “iria despontar como ‘liderança”’ da região do Agreste. – Quem entende alguma coisa de recursos humanos sabe o que é ser líder e exercer liderança. Ninguém é líder com um chicote na mão, para açoitar os seus “liderados”. – Com um relho na mão, o sujeito só pode ser algoz periculoso. Será só chefe de bandos e quadrilhas. Jamais será líder de uma comunidade.

Ser líder requer capacidade pra liderar; e é necessário que haja aceitação das suas opiniões por parte dos liderados. Opiniões não são ordens! – Essas condições faltam a quem usa o porrete e a espingarda pra resolver conflitos. Que não se confunda capitão do mato com líder. A diferença é tão grande, como gritante foi a estupidez dos que mataram, covardemente, mais de 20 pessoas. A tremenda estupidez deu lugar ao massacre sangrento, coisa que o povo de Garanhuns nunca mereceu.

Antes de ser morto, o “coronel”, disfarçado de “fidalgo”, já acumulava nos ombros, alguns crimes: lesão corporal dolosa contra o capitão Sales Vila Nova (coautoria); grave ameaça ao capitão Vila Nova; e injúria aviltante imposta ao próprio capitão, conforme destacado mais acima. – Todos esses crimes estão no nosso Código Penal. – Eis as sobejas razões que Sales Vila Nova teve pra matar o “coronel” dos valentões, em lugar público na capital do Estado. – Essa é minha opinião, ainda que alguém discorde.

E nem tento entender por que o juiz de direito e o chefe de polícia de Garanhuns passaram a cumprir as ordens da primeira viúva e dos seus asseclas, em vez de cumprirem as leis vigentes. – Isso é tão vulgar que se torna irrelevante, para mim. – É ISSO! /.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018




Mulher em apuros: RELATOS DA PRIMEIRA DEPILAÇÃO

Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, render-me à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu nem imaginava que ia doer, porque elas ao menos não me avisaram que isso aconteceria. Mas não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética. – Oi, queria marcar depilação com a Penélope. – Vai depilar o quê? - Virilha. – Normal ou cavada? Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que era pra fazer, quis fazer direito. – Cavada mesmo. - Amanhã, às... Deixa ver...13h? - Ok. Marcado. – Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava; coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de "Calígula" com "O albergue". Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas. – Querida, pode deitar. Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca. Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas. Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era “O Albergue” mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi que era natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresa quando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bem forte. – Quer bem cavada? – É... é, isso. – Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da “Abigail”, nome carinhoso de meu órgão genital; esqueci-me de apresentá-lo antes. – Os pelos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doer mais ainda. – Ah, sim, claro. Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma espátula “melada” de um líquido viscoso e quente (via pela fumaça). – Pode abrir as pernas. – Assim? – Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado. – Arreganhada, né? Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até a hora de puxar. Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído; que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural. Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu me havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais. – Tudo ótimo. E você? Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve ter aprendido a ser simpática para manter as clientes. O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava-me de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todas porque se cansam de sofrer sozinhas. – Quer que tire dos lábios? – Não, eu quero só virilha, bigode não. – Não, querida, os
lábios dela aqui ó!! – Não, não, para tudo! Depilar os tais grandes lábios ? Putz, que ideia. Mas topei. Quem está na maca tem que se foder mesmo. - Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor. Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida na Abigail. – Olha, tá ficando linda essa depilação. – Menina, mas tá cheio de pelo encravado aqui. Olha de perto. Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com a respiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. "Leva-me daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei à terra quando entre uns blá-blá-blás ouvi a palavra pinça. – Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram uns pelinhos, tá? – Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo; tô sentindo nada. Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe a arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir. – Vamos ficar de lado agora? – Hein? – Deitar de lado pra fazer a parte cavada. Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens. – Segura sua bunda aqui? – Hein? - Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda. Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o “olho que nada vê”. Quantos haviam visto, à luz do dia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar, peidar na cara dela, como se pudesse envenená-la. Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria: - Tudo bem, Pê? – Sim... sonhei de novo com o cu de uma cliente. Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchego falso da cera quente besuntando meu “Twin Peaks”. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve ver mil cus por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Por que ela lembraria justamente só do meu, entre tantos? E aí me veio o pensamento: peraí, mas tem cabelo lá? Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquer coisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto. – Vira agora do outro lado. – Porra... por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A bruaca da salinha do lado novamente abre a cortina. - Penélope, empresta um chumaço de algodão? Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o “tobinha” tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente. – Terminamos. Pode virar que vou passar a maquininha. –

Máquina de quê?! – Pra deixar ela com o pelo baixinho, que nem campo de futebol. – Dói? – Dói nada. – Tá, passa essa merda... – Baixa a calcinha, por favor. Foram dois segundos de choque extremo: "Baixe a calcinha".... como alguém fala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao cu. O que seria baixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bem agradável. – Prontinha. Posso passar um talco? – Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha. – Tá linda! Pode namorar muito agora. – Namorar... namorar?!... eu estava com sede de vingança. Admito que o resultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais. Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada. Mas eu ainda estou na luta... Fica a minha singela homenagem para nós mulheres! /.                                                               NOTA da redação: - Autora ANÔNIMA.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018



O assassinato de Margot Proença

José Fernandes Costa – jfc.cost15@gmail.com

"No dia em que foi assassinada, Margot trajava blusa de algodão branca. E saia xadrez, nas cores verde e vermelho. Sapatinhos de salto baixo, parecia uma colegial. Tinha 37 anos de idade.”
Esse é um trechinho da narrativa em que a advogada e procuradora de Justiça do Estado de São Paulo, Luiza Nagib Eluf, inicia o relato de um homicídio passional e cruel. A vítima foi a professora Margot Proença Gallo, mãe da atriz Maitê Proença. – Maitê, na época, tinha 12 anos de idade! - O autor do crime foi o marido de Margot, o procurador de Justiça, Augusto Monteiro Gallo. Enciumado e enfurecido, Augusto Gallo matou a esposa, com 11 facadas, em meio a uma discussão iniciada por causa dos caprichos dele! Esse homicídio ocorreu em Campinas SP, no dia 7 de novembro de 1970. – E é um dos 16 homicídios passionais, tratados no livro: "A paixão no banco dos réus", escrito por Luiza Nagib Eluf.
Após o homicídio, Augusto fugiu no carro dele, levando a faca (arma do crime), que nunca foi encontrada. Ele foi para Bragança Paulista (SP); e, de lá, foi para Belo Horizonte, onde ficou homiziado na casa de um “amigo”.
No dia 17 de novembro, 10 dias após o crime, Augusto Gallo voltou a Campinas e se apresentou à polícia. Relatou o episódio ao delegado, à sua maneira; e se disse arrependido; mas acrescentou que não tinha peso na consciência. – Não foi preso.
Essa tragédia, segundo a versão dada pelo próprio homicida, na delegacia de polícia, naquele 17 de novembro, teria tido o seguinte ponto de partida: que Augusto Gallo chegara em casa às 18 horas, no dia 3 daquele mês de novembro. E a empregada informara que o jantar estava pronto, mas a dona Margot acabara de sair e disse que voltaria em cinco minutos. Era terça-feira. E todas as terças-feiras o jantar era servido naquele horário, porque Augusto iria dar aula em seguida.
Que ele achou entranha a atitude da mulher e resolveu seguir Margot. Que a encontrou nos Correios, onde ela estava postando uma carta. Que ele se aproximou por detrás da esposa; e, sem que ela percebesse, tomou a carta das mãos dela, na hora que a funcionária se preparava pra receber a carta e passar na máquina de selagem.
Que Margot reagiu e tentou tomar a carta de volta. E, na confusão, a carta teria sido rasgada ao meio. Que ele pegou um pedaço da carta. E que, ao voltar pra casa e recompor aquela parte da carta, Gallo verificou, estarrecido, que se tratava de uma carta de “amor”, que seria endereçada ao professor francês Ives Gentilhomme. O professor Ives estivera em Campinas, meses antes, ministrando um curso do qual Margot havia participado. Foi aí, segundo Augusto Gallo, que ele se lembrou de que quando o professor estivera na cidade, as discussões entre o casal haviam aumentado. E cresceram suas suspeitas de que a mulher se envolvera com o professor.
Consta do livro que, após a cena nos Correios, Augusto Gallo teria esperado Margot na porta de casa, com uma arma de fogo na mão; que a ameaçou e bateu nela. E que, a seguir, ele fez Margot entrar no carro. E partiu, cidade afora! No percurso, várias vezes ameaçou matá-la. Mas não tivera coragem. Então, jogara o carro contra postes e outros obstáculos; mais de uma vez, sem sucesso. Por fim, entregou a arma à esposa e disse que ela o matasse! Margot se livrou da arma de fogo e conseguiu descer do carro, escapando da fúria de Augusto.
Pouco depois, Margot voltou pra casa, em companhia de um delegado de polícia. Que o delegado conversou com Augusto; e este prometera que tudo ficaria em paz; que ele nada faria contra a esposa. – Porém, seguiram-se dias tensos! Quando tudo parecia se acalmar, a empregada da casa, Zenilza, "detonou" a granada: disse que algumas vezes havia visto o professor Gentilhomme na casa do casal, quando Augusto viajava. – (Dizem que o diabo faz medo, não por ser diabo; mas por ser manhoso.)
A partir daí, Augusto Gallo começou a fazer investigações por conta própria, arquitetando sua iminente defesa. Quer no inquérito policial, quer no processo-crime. Ele foi atrás de várias pessoas, inclusive uma ex-empregada doméstica, que trabalhara em sua casa havia mais de 10 anos. Era Maria Bombonato que trabalhou com o casal na época que ambos viviam bem. Augusto quis saber se Maria notara alguma conduta estranha por parte de Margot, naquela época. Maria Bombonato informou ter percebido um relacionamento estranho de Margot com um ex-aluno de prenome Milton (?!) – Como Augusto era amigo do juiz José Augusto Marin, tudo foi facilitado em favor do réu. – Cerca de 40 pessoas foram ouvidas.
A filha Maitê Proença, com 12 anos de idade, foi ouvida pelo juiz e prestou declarações contra a mãe. – (Deve ter sido preparada para isso.) – Para mais ajudar e facilitar a defesa do criminoso, o juiz Marin ouvia as testemunhas na casa do próprio juiz. – O filho Renê, por ter só sete (7) anos de idade, não foi ouvido. – Mas o filho de criação, Jorge das Dores, de 23 anos, declarou que certa vez vira Margot em companhia de um oficial do Exército?!
Contudo, no curso do processo, nunca foi mostrado o suposto pedaço da carta que Margot teria feito para o professor francês?! E nem sequer foi ouvida qualquer pessoa dos Correios, pra confirmar ou negar os entreveros havidos, quando da pretensa postagem da carta naquela noite!
Margot Proença era professora de filosofia, no Colégio Estadual Culto à Ciência, em Campinas. Era querida e admirada pelo pessoal da área de educação e cultura, inclusive por alunos e ex-alunos. Houve muitos testemunhos em favor de Margot; mas nada disso serviu pra condenar Monteiro Gallo, que foi a dois julgamentos pelo Tribunal do Júri, da comarca de Campinas. E foi absolvido nos dois.
Não li a sentença de pronúncia. Mas, pelo que consta no livro, a parcialidade do juiz Marin já começou na peça de pronúncia. Visto que o promotor Alcides Salles recorreu da pronúncia. – Por ocasião do recurso, o promotor Alcides faz esta citação do jurista Nelson Hungria: - “O marido que surpreende a mulher e o tertius em flagrante; e, em desvario de cólera, elimina a vida de uma ou do outro; ou de ambos; pode invocar a violenta emoção. Mas aquele que, por simples ciúme ou meras suspeitas, repete o gesto bárbaro e estúpido de Othelo, terá que sofrer a pena inteira dos homicidas vulgares.

A mãe de Margot contratou o advogado Leonardo Frankenthal para acompanhar o inquérito policial e o processo-crime. E atuar como assistente de acusação. – Augusto Gallo contratou os advogados Álvaro Cury, Valdir Troncoso Peres e Nilton Silva Júnior. O promotor de Justiça era Alcides Amaral Salles.
O Tribunal do Júri de Campinas absolveu Augusto Monteiro Gallo duas vezes, por "legítima defesa da honra"?! - No primeiro julgamento a decisão dos jurados foi 7 X 0. A promotoria recorreu. E aquele julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. Por manifesta decisão contrária às provas dos autos. Posto que os jurados consideraram "que não houve excesso na conduta de Augusto Gallo; que ele agiu moderadamente, ao matar a esposa" .- (*Inciso vigente no CP da época.)
Na segunda sessão de julgamento, com a mesma tese, o Tribunal do Júri, machista e intolerante, tornou a absolver Monteiro Gallo (4 X 3). – (Onze - 11 - facadas de surpresa foi tido como "agir moderadamente e sem excessos"?! – Imagine o que seria considerado excessivo por aqueles julgadores?!)
O julgamento foi tão aberrante, que o juiz ouviu uma criança de 12 anos de idade, no plenário do Júri (Maitê Proença, filha do casal)! - O juiz José Augusto Marin, durante o inquérito e o processo-crime ouvia as testemunhas na própria residência de Marin, repita-se. Esse juiz José Marin era muito amigo do procurador Monteiro Gallo!
Mas a sentença transitou em julgado, já que não cabia mais recurso. – Por fim, o terceiro e definitivo julgamento de Augusto Monteiro Gallo foi um câncer generalizado que o levou ao suicídio, com dois tiros no coração, em julho de 1989 (19 anos depois de matar a esposa)! - É ISSO! /.