Por quem as panelas batem
16/8/2015
Temos toda a razão de bater
panelas quando a presidente aparece na TV dizendo que a culpa por nossa
pindaíba é da crise internacional. Mas por que não batemos panelas quando
Eduardo Cunha, o líder dos "black blocs" brasileiros, vândalo que faz
política com pedras, bombas e coquetéis molotov, vai em rede nacional dizer que
trabalha "para o povo", "sempre atento à governabilidade do
país"?
Temos toda a razão de bater
panelas contra a corrupção da Petrobras. Mas por que não batemos panelas contra
o mensalão mineiro ou o cartel do metrô paulistano? Por que não batemos panelas
contra a compra de votos para a reeleição do FHC? Por acaso pagar apoio na
Câmara é mais grave do que pagar emenda na Constituição?
Temos toda a razão de bater
panelas contra o retrocesso econômico de 2015. Mas como podemos não bater
panelas contra o anel de pobreza que desde sempre engloba as metrópoles
brasileiras, essa Faixa de Gaza de tijolo aparente, essa Cabul de laje batida
onde se amontoa boa parte da população?
Temos toda a razão de bater
panelas quando o governo se cala diante dos descalabros venezuelanos e da
ditadura cubana. Mas por que não batemos panelas diante do fato de nosso
principal parceiro comercial ser a China, maior ditadura do planeta? O tofu que
alimenta aquela tirania é feito com a nossa soja e os fazendeiros, ruralistas e
empresários que acusam a "venezualização" do Brasil são os mesmos que
lucram com o dinheiro comunista. Ninguém bate woks por causa disso?
Temos toda a razão de bater
panelas contra o estelionato eleitoral do PT. Mas por que não batemos panelas
contra o estelionato eleitoral do PSDB, que elege repetidamente um governador
tipo "gerente", prometendo "e-fi-ci-ên-ci-a" em cada
sílaba, mas coloca São Paulo à beira do co-lap-so-hí-dri-co"? Um cristão
cuja polícia, não raro, participa de grupos de extermínio, na periferia. Esta
semana, foram 18 chacinados em Osasco e Barueri. Imagina se fosse no Iguatemi?
E o estelionato das UPPs, no Rio, que prometem paz, mas torturam um cidadão até
a morte e somem com o corpo?
"Não, não, isso não!
Mata-me, mas não faz isso comigo!", gritava o Amarildo, segundo um
policial que testemunhou a barbárie, dentro de um contêiner. Como pode a nossa
maior preocupação em relação ao Rio, hoje, ser com a qualidade das águas para
as Olimpíadas de 2016? Cadê o Amarildo? Cadê as panelas?
Temos toda a razão de sair
pra rua, neste domingo, para protestar contra a incompetência, a corrupção e a
burrice do governo. Mas por que não sair pra rua para protestar contra a
incompetência, a corrupção e a burrice do país como um todo? Um país que mata
seus jovens, sonega impostos, polui, compra carteira de motorista, licença
ambiental, alvará, dirige pelo acostamento, estupra, espanca e esfaqueia mulher
(mas retira a discussão de gênero do currículo escolar), um país onde os negros
correspondem a 15% dos alunos universitários e a 67% da população carcerária.
Este ódio cego, esta
parcialidade hipócrita, este bombardeio cirúrgico que pretende eliminar o PT – e
só o PT– para "libertar o Brasil", empoderando Renan Calheiros e
Eduardo Cunha, não é o desabrochar da consciência cívica, é mais um fruto da
nossa incompetência, mais uma vitória da corrupção; palmas para a nossa
burrice.
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