Dou
continuidade às boas proezas do velho João Fernandes da Costa, meu avô paterno.
– (Saudosas lembranças!) – Ele tinha lá suas manhas. Como eu disse antes, meu
avô não tinha propensão pra senhor de escravos. – Mas tinha lá suas inclinações
pelas mulatinhas que pintassem na rede configurada do velho João. – Para ele,
tanto fazia ser negrinha, como branquinha. Todas eram bem tratadas. E bem alimentadas,
à base de mandioca. – Isto é, da massa da mandioca (aipim), mãe!
Para que não
se faça mau juízo, explico melhor: - Meu avô cultivava fruteiras e outras
lavouras. – Inclusive plantava mandioca. – Por isso mesmo, ao lado da casa de
residência, havia uma “casinha de farinha” (lugar onde é preparada a massa da
mandioca pra ser transformada em farinha de mandioca).
Outra: - lembro-me
bem de que o velho João Fernandes era dado a umas poesias. – Só que a
literatura dele era literatura de cordel. – Mas das boas. – À noite,
costumeiramente, juntava gente na casa do meu avô. – Chegavam homens e mulheres.
- Eram convidados (as) a entrar e sentarem-se ao redor e ao lado de uma mesa grande, na sala
principal da casa. – Nisso, iam logo dizendo: “A gente veio pra ver seu João
‘dizer’ poesias.” – Aí o velho se soltava. – Tanto “dizia” poesia, como dizia
as boas doidices saídas da cabeça dele. – Ele tinha muita presença de espírito.
– Se houvesse tido acesso aos estudos, poderia ir longe.
Mas, já que
não alcançou estudos, nem por isso deixou de viver sua vidinha feliz e
alegremente! – Curtindo as negrinhas e as branquinhas, que se dispusessem a
cair nas graças do velho João Fernandes.
2. Porém, de
tanto falar em negrinhas etc. e tal, faz-se necessário abrir um parêntesis pra
esclarecer alguns detalhes a respeito. – Vejamos: naquele tempo, chamar de
negra ou negrinha, não dava cadeia. E hoje, também, não dá, salvo em certos
casos. – Porque negra é a raça. E negrinha, tanto pode ser pejorativo, quanto
pode ser afetuoso! – Depende do tom de voz e das circunstâncias.
Tratar uma
negra por “negrinha ou negra metida a gente”, é ofensa, injúria. - Do mesmo
modo: dizer que “essa branquela mete o bedelho onde não lhe cabe”, é
igualmente, injúria e ofensa. O que pode
dar processo, mas nem sempre dá cadeia, é a injúria, o preconceito, a
discriminação etc.
Nada obstante, as pessoas hoje querem pegar na palavra, mesmo
sem saber onde o galo canta. E por qualquer bate-boca, vêm com essa de racismo
e outras idiotices; e “teje” preso! – Algumas e alguns falam logo no art. 5º,
inciso XLII, da nossa Constituição Federal. E dizem que é crime imprescritível
e inafiançável (?).
Repetindo:
dizer "essa negrinha doidona” é igual a dizer “essa branquela doidinha”. –
Tanto faz dar na cabeça, como na cabeça dar. – Até aí, nada demais. – A
depender do tom de voz, isso pode ser ofensa, injúria, agressão verbal.
Assim
como pode ser prova de carinho, se o tom da voz for afetuoso! São maneiras de falar
sobre determinada pessoa que caracterizam ou não a injúria, lesão danosa. – Mais:
chamar um negro de negro safado é igual a chamar um branco de branco safado. Isso
não é racismo. É, tão somente, injúria, menosprezo, agressão verbal. – Mais
adiante, volto a este assunto, trazendo um caso concreto. -¡Hasta la próxima!
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