terça-feira, 25 de dezembro de 2012


Homero e Helena – Na hora H


Homero na mesa oito. – Helena na mesa 12.

Homero enfim está de volta. – Helena não está à espera.

Homero saiu e ganhou o mundo. – Helena nunca arredou pé.

Homero guarda as cartas todas. – Helena jogou todas fora.

Homero pode explicar tudo. – Helena não quer saber nada.

Homero só pede um minuto. – Para Helena, agora é tarde.

Homero olha para ela. – Helena finge que não vê.

Homero acende um cigarro. – Helena odeia fumaça.

Homero atende o celular. – Helena retoca a maquiagem.

Para Homero, ela ficou bem de óculos. – Para Helena, ele anda malvestido.

Homero pensa: duas décadas. – Helena acha que foi ontem.

Homero é reticente: Peixes. – Helena é incisiva: Áries.

Homero acena a um velho amigo. – Helena puxa a cinta-liga.

Homero chama outro uísque. – Helena mexe o dry Martini.

Homero se lembra do dia em que a viu pela primeira vez. – Helena não se esquece do dia em que tudo terminou.

Homero não mais na bolsa dela. - Helena continua na carteira dele.

Homero ganhou 12 quilos. – Helena ganhou 21 estrias.

Homero se rói de aflição. – Helena não move uma palha.

Homero tem seu telefone. – Helena não vai atender.

Homero, cheio de apetite. – Helena, pronta a vomitar.

Arrependido, ele só teve uma outra. – Pra ir à forra, ela teve quantos quis.

Homero quer dizer a Helena que promete se emendar. – Helena jura que a emenda será pior que o soneto.

Homero está muito abatido. – Helena está a fim de abater.

Homero anda atrás de um norte. – Helena quer desnortear.

Homero insinua. – Helena deixa claro.

Homero almeja. – Helena se esquiva. / Homero, vassalo. – Helena, senhora. / Homero acata. – Helena ataca.

Homero contém. – Helena extrapola. – Homero quer deleite. / Helena, deletá-lo. / Homero ata. – Helena desata.

Homero gagueja. – Helena triunfa. / Homero, a Sonata Patética. – Helena, Carminha Burana. / Homero jaz. – Helena, jazz.

Homero, peteca. – Helena, squash. / Por ele, os dois votariam no tempo. – Por ela, seria tempo perdido.

Homero, o sonho. – Helena, o ato. / Homero, o ninho. – Helena, a arribação.

Homero sem ação, sem noção, sem tábua de salvação que o remova do embaraço. – Helena segura, liberta, com alta há muitos anos do analista.

Homero se sentindo adoecer. – Helena quer que doa a quem doer.

Homero pulsa. – Helena o repulsa. / Homero pede paz. – Helena, em pé de guerra.

Homero recorda seus seios. – Helena anseia vingança.

Vacilante, Homero caminha até ela. – Altiva, Helena olha com desdém.

Homero a tira pra dançar. – Helena atira pra matar.



(FONTE: - Marcelo Sguassábia – Correio Popular – Campinas. / Jornalzen – Campinas / O Município – São João da Boa Vista.)