sábado, 8 de julho de 2017

Pontes Visgueiro




Mariquinhas e Pontes Visgueiro

José Fernandes Costa - Jfc.costa15@gmail.com
Um bárbaro assassinato de u’a mulher de 33 anos de idade, em São Luís (MA), chamou-me a atenção. Lembrei-me de que, em meados de 2015, escrevi artigo que foi publicado na Gazeta de Bom Conselho. – Falei sobre mulheres assassinadas por bestas-feras, que se dizem “apaixonados” por elas. Isto é, mulheres vítimas dos “homens”. Prometi, naquela época, dar prosseguimento ao triste tema, começando pelo crime cometido por José Cândido de Pontes Visgueiro, na mesma São Luís do Maranhão, no dia 14 de agosto de 1873.
Do recentíssimo 2015 para cá, inúmeras mulheres foram trucidadas por esses entes endiabrados que andam soltos. – Por isso, oportuno voltar no tempo; e falar de Pontes Visgueiro, que nasceu no dia 13 de outubro de 1811, na Vila de Maceió, da então comarca de Alagoas, que era vinculada à província de Pernambuco. – Como vemos, essa história de “homens” pretenderem ser donos das mulheres, remonta a milhares e milhares de anos.
Pontes Visgueiro era desembargador em São Luiz (MA), em 1872. Tinha 60 anos quando cometeu o monstruoso crime. – Ele matou, cruelmente, Maria da Conceição (Mariquinhas), que tinha 15 anos de idade; era adolescente pobre, prostituída pelos vis interesses pecuniários da própria mãe.
Com apenas 15 anos, Mariquinhas já era prostituta, porque a mãe dela se aproveitava da beleza da filha criança; e a levava para os homens de dinheiro desfrutarem do sexo da jovem, em troca de farto pagamento, que a velha mãe proxeneta da filha embolsava. Nas redações de jornais, nos tribunais, nos escritórios, onde houvesse homens com dinheiro e prestígio, a velha Luiza Sebastiana de Carvalho ia lá entregar a filha.
Visgueiro se “apaixonou” por Mariquinhas e queria que ela lhe fosse fiel acima de tudo. Visgueiro era tão mau que nem levava em conta a condição de Mariquinhas, nascida de u’a mãe sem qualquer formação. E criada por aquela infeliz mãe. A mãe de Mariquinhas tinha os olhos voltados só para o que o corpo da filha pudesse render. Era u’a mãe imoral, como imorais eram os coronéis em geral. – Note-se que essa mesma imoralidade campeia cinicamente nos dias de hoje.
Pontes Visgueiro, quando tinha 18 meses de idade foi acometido de uma febre maligna que o deixou surdo. E só aos cinco (5) anos começou a ouvir e falar. – Todavia, aos 40 anos tornou-se completamente surdo. – Ainda jovem, estudou num seminário em Olinda (PE). Mas não seguiu a carreira eclesiástica. Ingressou na Academia de Direito, em Olinda.
Na época, quis casar-se com u’a moça de família distinta, em Maceió; mas o pai de Visgueiro não consentiu e o transferiu para a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, São Paulo. – Em São Paulo ele já tinha comportamento violento e andava armado.
Formado em 1834, já era deputado provincial por Alagoas. Ao ser diplomado, foi ser juiz de Direito em Maceió. Então, candidatou-se a deputado geral. Juntamente com outros quatro eleitos, também da magistratura, foi “representar” Alagoas, na capital federal (1838/1841). – Sempre foi muito elogiado por sua “brilhante inteligência”.
Nos anos de 1848 a 1857, Pontes Visgueiro voltou à magistratura, indo para a província do Piauí. Logo chegou a desembargador, assumindo esse encargo no Maranhão. Como já estava surdo, ficava impossível ouvir os debates pra se manifestar nos autos, coisa indispensável pela natureza do cargo. – Pra contornar, em parte, esse problema, o governo imperial ofereceu-lhe o cargo de fiscal do Tribunal do Comércio da Província do Maranhão.
O relacionamento com Mariquinhas começou em 1872. Pontes Visgueiro escandalizou a “sociedade” de São Luís, com cenas patéticas, diante de Mariquinhas. A ponto de se ajoelhar pra beijar os pés da menina, nas ruas movimentadas da cidade. – Um desembargador prestar-se a tamanha humilhação, era demais, fosse onde fosse.
Como Mariquinhas não era fiel a Pontes Visgueiro, ele a atraiu para uma cilada e a matou, covarde e estupidamente, com ajuda de um criado que havia contratado exclusivamente para esse fim. – Quando chegou à casa de Visgueiro, acompanhada de Thereza de Jesus, com quem morava, Mariquinhas teve o pressentimento de que algo estava errado. Quis voltar com Thereza, mas era tarde para tanto. 
Depois de se servirem de doces etc., Thereza foi embora. Pontes Visgueiro mandou Mariquinhas subir para o quarto dele, dizendo que tinha um presente pra dar a ela. – E a matou de forma tão cruel que não deve ser descrita aqui. Depois de consumado o assassinato, Visgueiro pôs o corpo da menina num caixão de zinco, que havia mandado fazer pra “guardar” Mariquinhas. Tudo foi feito com a ajuda do empregado por ele contratado, que cumpria ordens do patrão. – Depois, chamou um compadre que era funileiro e mandou que ele soldasse bem o caixão.
Com as inúmeras pistas deixadas por Visgueiro, facilmente a polícia encontrou o caixão, alguns dias depois, enterrado no fundo do quintal da casa do desembargador. Visgueiro foi preso e mandado para o Rio de Janeiro, pra ser julgado pelo Supremo Tribunal de Justiça (nome de então). – Foi sentenciado à pena de galés (presos com correntes nos pés), grau máximo. – Por ter mais de 60 anos, essa pena foi substituída por prisão perpétua com trabalho. – Alguns historiadores daquela época dizem que Visgueiro morreu na prisão. – Outros dizem que ele fugiu pra Lisboa e não mais apareceu no Brasil. – A verdade, no entanto, nunca foi esclarecida.
A defesa de Visgueiro tentou desqualificar o crime, sob a alegação de que o homicida sofria de “desarranjos” mentais! – A promotoria afastou esse argumento. – O Tribunal, por unanimidade, rejeitou a tese da defesa; e rejeitou também a pena de morte pedida pela acusação. – Restou provado que o crime foi milimétrica e friamente premeditado. – Pontes Visgueiro perdeu o cargo de desembargador. – Evaristo de Morais (26.10.1871 — 30.6.1939) publicou livro dizendo que ali “houve erro judiciário”. – Não houve erro judiciário. – A frieza que o criminoso Visgueiro demonstrou tanto antes, quanto depois do horrendo crime, prova a premeditação com requintes de crueldade!
Visgueiro havia mandado fazer dois caixões, em São Luís: um de zinco e outro de cedro. – Numa ida a Teresina encomendou um terceiro caixão. E ainda comprou grande quantidade de clorofórmio pra preservar o corpo de Mariquinhas. – Tudo isso constou dos autos. E as pessoas envolvidas nesses preparativos depuseram em juízo: os três fabricantes dos caixões; o comerciante do clorofórmio; o funileiro que soldou o caixão de Mariquinhas etc. Assim também, o serviçal que foi obrigado por Visgueiro a ajudá-lo a executar o crime. /.

Um comentário:

  1. Na próxima oportunidade, trago a crônica sobre o recente assassinato da outra mulher (33 anos), ocorrido em São Luís do Maranhão do Maranhão. - Trata-se da morte de uma sobrinha-neta do ex-senador José Sarney. /.

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