quinta-feira, 17 de março de 2016

Sítio São José e circunstâncias





Dou continuidade às boas proezas do velho João Fernandes da Costa, meu avô paterno. – (Saudosas lembranças!) – Ele tinha lá suas manhas. Como eu disse antes, meu avô não tinha propensão pra senhor de escravos. – Mas tinha lá suas inclinações pelas mulatinhas que pintassem na rede configurada do velho João. – Para ele, tanto fazia ser negrinha, como branquinha. Todas eram bem tratadas. E bem alimentadas, à base de mandioca. – Isto é, da massa da mandioca (aipim), mãe!

Para que não se faça mau juízo, explico melhor: - Meu avô cultivava fruteiras e outras lavouras. – Inclusive plantava mandioca. – Por isso mesmo, ao lado da casa de residência, havia uma “casinha de farinha” (lugar onde é preparada a massa da mandioca pra ser transformada em farinha de mandioca).

Outra: - lembro-me bem de que o velho João Fernandes era dado a umas poesias. – Só que a literatura dele era literatura de cordel. – Mas das boas. – À noite, costumeiramente, juntava gente na casa do meu avô. – Chegavam homens e mulheres. - Eram convidados (as) a entrar e sentarem-se ao redor e ao lado de uma mesa grande, na sala principal da casa. – Nisso, iam logo dizendo: “A gente veio pra ver seu João ‘dizer’ poesias.” – Aí o velho se soltava. – Tanto “dizia” poesia, como dizia as boas doidices saídas da cabeça dele. – Ele tinha muita presença de espírito. – Se houvesse tido acesso aos estudos, poderia ir longe.

Mas, já que não alcançou estudos, nem por isso deixou de viver sua vidinha feliz e alegremente! – Curtindo as negrinhas e as branquinhas, que se dispusessem a cair nas graças do velho João Fernandes.

2. Porém, de tanto falar em negrinhas etc. e tal, faz-se necessário abrir um parêntesis pra esclarecer alguns detalhes a respeito. – Vejamos: naquele tempo, chamar de negra ou negrinha, não dava cadeia. E hoje, também, não dá, salvo em certos casos. – Porque negra é a raça. E negrinha, tanto pode ser pejorativo, quanto pode ser afetuoso! – Depende do tom de voz e das circunstâncias.

Tratar uma negra por “negrinha ou negra metida a gente”, é ofensa, injúria. - Do mesmo modo: dizer que “essa branquela mete o bedelho onde não lhe cabe”, é igualmente, injúria e ofensa. O que pode dar processo, mas nem sempre dá cadeia, é a injúria, o preconceito, a discriminação etc.

 Nada obstante, as pessoas hoje querem pegar na palavra, mesmo sem saber onde o galo canta. E por qualquer bate-boca, vêm com essa de racismo e outras idiotices; e “teje” preso! – Algumas e alguns falam logo no art. 5º, inciso XLII, da nossa Constituição Federal. E dizem que é crime imprescritível e inafiançável (?).

Repetindo: dizer "essa negrinha doidona” é igual a dizer “essa branquela doidinha”. – Tanto faz dar na cabeça, como na cabeça dar. – Até aí, nada demais. – A depender do tom de voz, isso pode ser ofensa, injúria, agressão verbal.

Assim como pode ser prova de carinho, se o tom da voz for afetuoso! São maneiras de falar sobre determinada pessoa que caracterizam ou não a injúria, lesão danosa. – Mais: chamar um negro de negro safado é igual a chamar um branco de branco safado. Isso não é racismo. É, tão somente, injúria, menosprezo, agressão verbal. – Mais adiante, volto a este assunto, trazendo um caso concreto. -¡Hasta la próxima!


Nenhum comentário:

Postar um comentário