sábado, 12 de março de 2016

Sítio São José



José Fernandes Costa
Hoje vamos falar de coisas amenas. Mas antes, ainda falo sobre uma jovem. Ela escreveu, entre outras coisas, no dia 11.6, ao dirigir-se a mim: "... faço desde ‘galinha de cabidela’ até feijoada; que todos atribuem essas iguarias aos nossos escravos; mas é..." – Os grifos são meus. – Por que dizer: “... aos nossos escravos...” – Ela mantém escravidão nas tuas fazendas de gado leiteiro?

Com isso, resvalo no tempo, em direção à minha meninice: e confesso que o velho João Fernandes da Costa, meu avô, nunca foi senhor de escravos. 

O velho João Fernandes foi senhor só do Sítio São José. Além de atirar em veados, pescar, caçar e contar certas bravatas, o velho João era chegado a umas negrinhas ou branquinhas, lá mesmo do sítio dele; quem sabe, também dos sítios dos vizinhos. Ainda que os vizinhos fossem os filhos legítimos do velho João Fernandes, meus tios / minhas tias.

Negrinhas, no bom sentido. Aliás, não existem negrinhas no mau sentido. Aquelas meninas eram de bom calibre; as moradoras do São José, de propriedade do velho (o sítio, não as negrinhas, nem as branquinhas eram propriedade do velho, claro!) – E nem as morenas claras. Ele poderia, algumas vezes, até ter o enlace amoroso, sem essa de escravidão. Nunca ele pensou em ter a propriedade daquelas criaturas. Como eu disse acima, ele não tinha pendores para a escravidão. 

Aqui, faço um parêntesis: em alguns momentos, no texto ou fora dele, eu posso parecer meio licencioso, libertino. Mas não sou. E sei que alguns e algumas até riem dos meus chistes. Todavia (sempre gosto de uma via); todavia, eu ia dizendo: se alguém me julga libertino, isso não me interessa. São pessoas que perderam o trem na curva. Talvez, essas pessoas ostentem “moral” falsa, pra esconder seus defeitos (delas).

E uma coisa que me regozija é saber que as "moradoras" e os "moradores", como nós chamávamos, ali eram bem alimentadas (os). Havia frutas por todo o ano. E lavouras o ano inteiro. E não tinha essa de pobre passar fome, tendo comida para os donos das terras, que eram o meu avô e os filhos dele. 

Aquelas moças moradoras e namoradeiras eram fortinhas, de perninhas grossas. Coisa "louca". Loucura das boas! - Ah, que saudade me dá! – Não é “saudade do bate-papo, do disse me disse, lá do Café Nice”, não. É saudade das festas com as nossas “matutinhas” lá do São José.

E saudade me dá também, da passarada que ali habitava, pela força da natureza. Eram os beija-flores que, nas suas evoluções alegres, mais pareciam pessoas ansiosas dos dias de hoje. Mas só pareciam. Pois não tinham nada a ver com as ansiedades das gentes cheias de “tubulações”, como diz u’a amiga minha, querendo dizer tribulações. Os beija-flores voavam de arbusto a arbusto, beijando todas as flores que encontrassem. E as andorinhas iam ligeiras, como nos dizia o Altemar Dutra.

Então, vinham aqueles periquitos pequenos, passear junto a nós. Periquitos mansinhos e lisinhos. Chamo de periquitos pequenos, de forma bem carinhosa. Mas havia os papagaios; e os periquitos de tamanho razoável; assim como os periquitinhos pequeninos. Estes, bem fofinhos e de plumas tão macias que dava gosto a gente passar a mão naquela penugem! Aliás, penugem, só quando eles eram novos. Peninhas e pelinhos de qualquer cor; que as queríamos da cor que viessem. E como era grande o nosso interesse de preservar o meio ambiente. Não só os ambientes no meio. Também os ambientes dos cantos, dos cantinhos, por mais escondidinhos que estes fossem. – Ah, que saudade me dá! Repito: não é saudade do Café Nice, não. É saudade dos periquitos. Grandes ou pequenos. Todos inofensivos! Por vezes, sonsinhos, o que lhes dava mais charme

**Até a próxima, ainda nessa linha; sem sair da linha. /.



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